sábado, 9 de maio de 2009

Lamentos no sertão - Carmen Apóstolo



Lamentos no Sertão
Carmen Apóstolo


Os juazeiros cansaram...Cansaram de arribar. Já não davam suas frutas e seus galhos ressequidos sumiram na paisagem sem cor. Pareciam haver tombado lá no marco do horizonte onde nunca chegarão. Recuaram, sumiram...


Tudo era silêncio quando um som bem suave e triste , na forma de um lamento, surgiu entre as ossadas de animais e raízes secas já desprendidas da terra.


Fui me aproximando até chegar por perto.


Era um homem de aparência rude, com as mãos e pés esturricados pelo sol e a pele quase a lhe grudar nos ossos.


Os dedos sangravam sobre a terra que chora a secura de seu veio.


Raimundo era seu nome.


Ali estavam: o retirante, a mulher, dois filhos e um cãozinho fiel.


Todos a acompanharem o calvário, os lamentos profundos daquele homem, ao qual só restava a esperança.


A mulher seguia o mesmo pensamento do companheiro. Achava que o únicoremédio era crer e esperar.


E aquele homem , nada fazia senão olhar para o céu à procura de um sinal de chuva.


Um dia ele resolveu confidenciar-me seus profundos sentimentos:


_Não sei porque solto as palavras amargas da minha boca !


É como se eu pudesse, assim, consertar o mundo!


O filho mais velho pôs-se a chorar.


O pai acrescentou:_Anda, condenado do diabo, gritou-lhe ao ouvido, ao que ele respondeu:_ Eu sei, meu pai, que você me ama!


Em meio a tudo isto, a chuva caiu, a catinga ficou verde como a esperança, os meninos brincavam felizes na terra fofa.


Foi a verdadeira Ressurreição! E o mandacaru na serra, redimiu os pecados da miséria e da fome.


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